Texto da contracapa de PARSONA, de Adriano Scandolara


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Nestes tempos em que os procedimentos concretistas integraram-se confortavelmente aos cânones da literatura brasileira, e os epígonos pululam, a poesia experimental tornou-se carne de vaca; ganhou em prestígio o que perdeu de potencial crítico. O verso morreu, pero no mucho; ao menos sobreviveu aos grandes poetas concretos, com exceção de Augusto de Campos, que ainda arrasta, vez ou outra, suas correntes antilíricas pela Casa das Rosas, em São Paulo.

É com tal ânimo que recebemos PARSONA, de Adriano Scandolara, e ele vem como uma lufada de vento fresco — ou uma bofetada — na cara. Aqui, o experimentalismo não tem nada de inofensivo: de uma apropriação alegórica (em termos bürgerbenjaminianos) da lírica de Olavo Bilac em Via Láctea, na qual esta reluz como ruína, desponta uma provocação ambivalente, verdadeira lâmina de dois gumes.

Em primeiro lugar, temos a dessacralização do lirismo bacharelesco, cerimoniosamente comovido, representado pelos sonetos bilaquianos, mas isto ainda é pouco, é chutar cachorro morto. Percebe-se que tal dessacralização possui um caráter ambíguo, pois — ao mesmo tempo que desconstrói — atualiza, resgata e dá crédito. A ironia impiedosa é uma forma de levar a sério. Dessa maneira, a lâmina se volta contra o protocolo do bom gosto literário contemporâneo que, formado a partir do consenso modernista, prescreve uma distância profilática dos restos mortais parnasianos, exumados e profanados por Scandolora.

Num ato final, no posfácio, a ironia toma por alvo os expedientes formais que constituem a medula do próprio livro, acusando a frivolidade e o convencionalismo que a literatura experimental assumiu nas últimas décadas. PARSONA é a consciência de um impasse, que pode ser o fim da linha, mas também um novo caminho, aberto à força de uma reflexão crítica intransigente, que não recua diante de qualquer valor estético estabelecido (seja clássico ou moderno). 

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